quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CIA. OS SATYROS

Os Satyros

Fundada em 1989 em São Paulo por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, Os Satyros iniciaram a pesquisa de um teatro essencialmente experimental. Em 1990, a partir da montagem “Sades ou Noites com os Professores Imorais”, da obra homônima do Marquês de Sade, que estreou no Teatro Guaíra, em Curitiba, a companhia provocou polêmica e dividiu a crítica especializada. Os Satyros tiveram muita dificuldade em localizar um espaço para a apresentação do espetáculo na cidade de São Paulo. Foi então que a companhia assumiu a administração de um pequeno teatro abandonado no tradicional bairro paulistano da Bela Vista, chamado Teatro Bela Vista. Além de conseguirem apresentar o espetáculo, iniciaram um período de forte intervenção cultural que se prolongaria até a transferência da companhia para a Europa. Com a estréia do espetáculo, a imprensa e os críticos elogiavam a coragem do grupo; por outro lado, criticavam a crueza com que a companhia tratava a obra de Sade. O saldo: um ano em cartaz, seis indicações ao Prêmio APETESP de Teatro, incluindo as categorias de Melhor Espetáculo, Direção e Ator Protagonista, e a aquisição do Teatro Bela Vista.

Neste período à frente do Teatro Bela Vista, Os Satyros realizaram as mais diversas iniciativas culturais. Em maio de 91, a companhia estreava “A Proposta”, espetáculo inspirado na obra de Tchecov e que fazia uma crítica bem humorada às tendências do teatro brasileiro naquele momento. Ainda nesse ano, a companhia organizou o evento “Folias Teatrais”, em que o Teatro Bela Vista ficou aberto ininterruptamente durante 4 dias e 4 noites, em homenagem à primavera e pontuando a resistência da cultura naquele difícil período. Durante esse evento, a companhia recebeu artistas de diversos lugares do país, das áreas de artes plásticas, teatro, dança, música, jornalismo e literatura; entre os quais, destacam-se José Roberto Aguilar, Antônio Fagundes, Débora Bloch, Diogo Vilela, Sílvia Poppovic, Carmelinda Guimarães, Celso Nunes e Moacir Góes (na primeira vez em que vinha a São Paulo para uma palestra sobre o seu trabalho).

Mesmo instalada em São Paulo, a companhia mantinha o seu contato estreito com a produção cultural paranaense, o que culminaria com a organização da “1ª Mostra de Arte Paranaense em São Paulo”. Com o apoio do Teatro Guaíra, mais de 50 artistas se apresentaram no Teatro Bela Vista durante quinze dias ininterruptos de atividades.

Com “Saló, Salomé”, também de 91, Os Satyros marcaram presença e começaram a definir uma linha própria de pesquisa. Por oito meses o Teatro Bela Vista teve lotação esgotada e o espetáculo foi convidado, no ano seguinte, para representar o Brasil em dois importantes festivais de teatro europeus: o FITEI, do Porto, em Portugal, e o Festival Castillo de Niebla, em Moaña, Espanha, durante a EXPO de Sevilha.

Foi assim que nasceu a sede portuguesa do grupo. Instalados em Lisboa, Os Satyros produziram vários espetáculos e viajaram por importantes teatros na Europa: de Londres a Kiev. Em 93 participaram do Festival de Edimburgo, na Escócia, e do Festival de Avignon, na França. No Edinburgh Festival, a montagem da companhia foi considerada pela crítica a sensação do festival. Em Londres, Os Satyros se apresentaram no respeitado centro de teatro experimental Battersea Arts Centre. No mesmo ano de 93, apresentaram-se em Kiev. Foi a primeira companhia ocidental a se apresentar na Ucrânia desde a queda do muro de Berlim.

Em 94, implantaram em Lisboa o Curso Livre de Interpretação para Teatro, referência na formação de jovens atores em Portugal, pelo qual passaram mais de mil alunos. Neste período, Os Satyros produziram espetáculos de forte impacto como “Sappho de Lesbos” e “Valsa nº 6” (a primeira produção portuguesa do texto de Nelson Rodrigues). Neste momento também a companhia recebeu o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, em atitude inédita com relação as companhias estrangeiras residentes em Portugal, para a montagem do espetáculo “Maldoror”.

A partir de 94, a companhia começa a trabalhar novamente em Curitiba, desenvolvendo os projetos “De Profundis” e “Quando Você Disse Que Me Amava”.

Em 96, Os Satyros trabalharam intensamente entre Brasil e Portugal. Curitiba abrigou a primeira produção brasileira da companhia com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, “Prometeu Agrilhoado”, inspirado no texto de Ésquilo e que utilizava os recursos multimídia que vem sendo pesquisados pela companhia – este espetáculo foi a primeira parte da “Trilogia Grécia Virtual”, completados por “Electra” (97) e “Medea” (98). Em Lisboa, realizou “Woyzeck”, de Büchner, apresentado em uma das principais salas de espetáculos do país, o Teatro da Trindade, e “Hamlet-Machine”, de Heiner Müller, no Museu da Cidade de Lisboa.

Em 97, a Companhia estreou o espetáculo “Electra”, dentro da Trilogia Grécia Virtual, e “Killer Disney”, de Phillip Ridley, ambas as montagens apresentadas no Teatro Guaíra, em Curitiba. Em Lisboa, realizou o espetáculo “Divinas Palavras” de Ramón del Valle-Inclán, no Museu da Eletricidade de Lisboa. Também estreou o programa radiofônico “Os Cantos de Portugal”, na Rádio Educativa de Curitiba e participou do evento Instant Acts Against Violence and Racism, com artistas de 15 países diferentes e patrocínio da Comunidade Européia, na Alemanha.

No ano de 98 a companhia produziu “Urfaust”, estreado na mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba, baseado no texto original de Goethe. Ainda neste ano a companhia realizou as montagens de “Maldoror” – cuja trilha sonora foi especialmente composta pelo músico inglês Steven Severin, fundador da banda Siouxsie and the Banshees e um dos mais respeitados músicos pop da Inglaterra – e “Medea”, a partir do mito grego. O programa “Os Cantos de Portugal” manteve-se como uma das grandes audiências da Rádio Educativa, permanecendo no ar até os dias atuais.

Os Satyros iniciam 99 com grande vigor: “Medea” é apresentada no Teatro Glória, no Rio de Janeiro; e “Os Cantos de Maldoror” participa da mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, além de cumprir temporada em São Paulo no espaço da FUNARTE. Ainda em Curitiba produzem “A Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente; “Coriolano”, de Shakespeare; e “A Mais Forte”, de Strindberg e Schiller. Pelo terceiro ano consecutivo a companhia atua no projeto Instant Acts Against Violence and Racism, desta vez percorrendo mais de seis países europeus.

O ano 2000 veio com força para a companhia que estreou no Festival de Teatro de Curitiba o espetáculo “A Dança da Morte”, de Strindberg. Em Agosto Os Satyros estrearam “Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte”, de Ramón del Valle-Inclán. Naquele momento a companhia preparava a inauguração de sua sede em São Paulo, enquanto assumia a direção artística do projeto Instant Acts Against Violence and Racism, patrocinado pela instituição alemã Interkunst, com fundos da Comunidade Européia. Durante este ano Os Satyros excursionam pela Europa com o espetáculo “50 Years Difference”, com texto a partir de depoimentos de sobreviventes da II Guerra Mundial, em uma produção da Interkunst.

A inauguração do Espaço dos Satyros em São Paulo foi em dezembro de 2000, com o espetáculo “Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte”. O ano de 2001 iniciou com a montagem de “Quinhentas Vozes”, de Zeca Corrêa Leite. Em agosto, Os Satyros estrearam em Curitiba “Sappho de Lesbos” e “Romeu e Julieta”, que foram apresentados, no final do ano, em São Paulo.

Em 2002, a companhia debuta no cinema, realizando o longa-metragem “Último Sinal”, em fase de finalização, e traz à cena paulistana “De Profundis”, com texto de Ivam Cabral e direção de Rodolfo García Vázquez, baseado na obra que Oscar Wilde escreveu no cárcere e “Kaspar” à cena curitibana. Simultaneamente, o espetáculo “Quinhentas Vozes” é apresentado no interior de São Paulo, dentro do projeto “Jovem Protagonista”, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Ainda em 2002, a companhia foi contemplada com o Programa de Fomento ao Teatro, da Secretaria Municipal de São Paulo, através de um subsídio para as atividades de sua sede paulistana; e organizou o evento “Satyrianas, uma Saudação à Primavera”, em comemoração ao 13o. aniversário de sua fundação. Nesta ocasião, atuaram com o grupo, em uma série de debates e workshops, nomes importantes da cultura brasileira, como: Antonio Fagundes, Fernando Peixoto, Clara Carvalho, Georgette Fadel, Claudia Schapira, Silvana Garcia, Sebastião Millaré, Marta Góes, Maria Adelaide Amaral, entre outros.

Em 2003 Os Satyros estrearam “Antígona”, de Sófocles - indicado ao Prêmio Shell de Teatro em duas categorias: melhor direção (Rodolfo García Vázquez) e melhor atriz (Dulce Muniz) - e “A Filosofia na Alcova”, a partir do Marques de Sade, que teve sua estréia no Festival de Teatro de Curitiba.

Recentemente a companhia recebeu o 4º. Prêmio “Cidadania em Respeito à Diversidade”, conferido pela Associação do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo, pela produção do espetáculo “De Profundis”. Em Curitiba, Os Satyros foram contemplados com o prêmio Ocupação do Novo Rebouças, destinado a companhias artísticas que dinamizassem o bairro do Novo Rebouças e estrearam “Faz de conta que tem Sol lá Fora”, de Ivam Cabral, com direção de Rodolfo García Vázquez, que permaneceu em cartaz nos últimos meses de 2003.

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