quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CIA. DE TEATRO FABRICA SÃO PAULO

Histórico


A Cia. de Teatro Fábrica São Paulo trabalha, atualmente, fora da sede construída pelo grupo em 2004, o antigo espaço chamado Teatro Fábrica, na Rua da Consolação. Conheça essa história.


O grupo Fábrica São Paulo surge em 1983, com uma dramaturgia focada na percepção de como o espaço repercute no espectador, na representação, nas relações humanas. Nosso projeto objetivava ocupar fábricas existentes na zona leste de São Paulo. Esse desejo deu nome ao grupo, e o ator foi retirado do palco para ocupar construções arquitetônicas. Líamos Artaud, Rimbaud, Malarmé e muito Baudelaire. Adaptações de obras surgiam da noite para o dia, algumas avançavam até a escaleta como Estadia no Inferno, de Rimbaud, e Balada da Louca, de Cruz e Souza. Outras tiveram a dramaturgia concluída, projetos finalizados, mas não estrearam, como ocorreu com Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont, criado para ocupar o Tendal da Lapa em 1992.

Estudo para Os Cantos de Maldoror, no Tendal da Lapa


Em Preto e Branco, 1986, espetáculo criado a partir de poemas de Tuponi Costa, amigo que não pertencia ao grupo, não por nossa vontade, mas porque se recusava a fazer parte de qualquer coisa.

Em Preto e Branco foi uma das adaptações que saíram da escaleta e estrearam. O espetáculo foi idealizado para ocupar o Teatro Martins Pena e utilizou como área cênica as áreas de serviço, camarins, escadas, foyer, palco e platéia. As cenas movimentavam o público pelo espaço físico do prédio; após circular as áreas externas, este pisava nas coxias, entrava no palco, descia para a platéia e, sentado, assistia à última cena do espetáculo realizada no palco. Nessa época, o Teatro Martins Pena era espaço de reuniões e palco da programação do Movimento Cultural da Penha.

Por seis anos, de 1986 a 1992, mantivemos um espaço de trabalho no segundo andar de um antigo cinema no bairro da Penha - antigo Cine São Geraldo - e nele realizamos nossos espetáculos e experiências. As três salas amplas e a sacada do segundo andar eram, para nós, o local onde tudo era possível.

Dentre os espetáculos desse período, Paula, baseado em textos de Antonin Artaud, com direção de Roberto Rosa, talvez tenha sido o mais significativo.
As salas, corredores, banheiros e escadas do nosso espaço/sede, reconstruíam a atmosfera vivida por Antonin Artaud no Asilo de Rodez.

Em 1990, sem recursos financeiros para continuar na linha de pesquisa inicial e, ao mesmo tempo, manter o estúdio, suspendemos temporariamente os projetos que propunham a criação de espetáculos em espaços não-convencionais para popularizarmos o trabalho e dar início à produção de um Circuito Popular de Teatro, com espetáculos em formato de arena.
Em março desse ano, abrimos o circuito com O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal, com direção de Roberto Rosa, com Sérgio Audi e Kátia Cipris no elenco. A peça foi seguida de duas outras versões: em 1991, com direção de Antônio Januzelli (Janô), e em 1993, com direção de Marcos Antunes Estival.

Macbeth, de William Shakespeare, com tradução e direção de Duda Miranda, e Em Alto Mar, de Slawomir Mrozec, com direção de Roberto Rosa e tradução de Roberto Lage, também foram espetáculos criados para o circuito que chegou a atingir 200 apresentações por ano. Nossos novos espaços de apresentação, nem tão não-convencionais, eram escolas, sindicatos, locais históricos e cidades brasileiras desprovidas de salas de espetáculos.


Os oito anos de atividades no Circuito Popular nos profissionalizaram e, em outubro de 1998, objetivando a inserção no circuito teatral de São Paulo, estreamos A Falecida, com direção de Robert McCrea, no Festival de Cantebury, Inglaterra. Em janeiro do ano seguinte, partimos para a nossa estréia paulistana em nossa primeira temporada no Centro Cultural São Paulo.


A parceria com Robert McCrea rendeu a produção de mais um espetáculo. Retomando a tradução feita por Duda Miranda para a montagem de arena de 1992, realizamos um processo de pedagogia teatral patrocinado pelo Projeto Residência Teatral da Secretaria de Estado da Cultura e estreamos novamente Macbeth, dessa vez numa montagem de palco. Participaram desse processo Dani Hu, Hélio Cícero, Madalena Bernardes, Diogo Granato e mais 30 atores estagiários.

Em 2002, a Companhia de Teatro Fábrica São Paulo é contemplada pela primeira vez pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e, com a parceria de mais 29 empresas, recupera e incorpora ao patrimônio cultural brasileiro o edifício onde funcionou a Indústria e Comércio de Rádios INVICTUS, primeira indústria brasileira de rádios. Neste antigo galpão industrial, localizado na Rua da Consolação, inauguramos, em fevereiro de 2004, o Teatro Fábrica São Paulo. Lá produzimos nosso último espetáculo como coletivo de trabalho, Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, com direção de Roberto Rosa.

Com o advento do segundo Fomento recebido por nós em janeiro de 2005, a Companhia se dividiu em dois núcleos de pesquisa: os núcleos 1 e 2 do Teatro Fábrica. Duas linhas de pesquisa autônomas com focos de ação diferentes, mas que estão inseridas em dois momentos da trajetória de nosso grupo.
A primeira retomou a pesquisa que deu origem à companhia numa linha investigativa de constituição do ator a partir do pensamento de C.G.Jung e Gaston Bachelard, denominada “O espaço na construção da cena”; a segunda, coordenada por Sérgio Audi e Luiz Casado, deu seguimento aos espetáculos de arena construídos a partir do entendimento do pensamento de Karl Marx e do teatro de Bertolt Brecht. As pesquisas dos dois núcleos tiveram a continuidade assegurada com o recebimento do terceiro Fomento, em janeiro de 2006.

ESVAZIANDO A SEDE – A saída da Cia. Fábrica São Paulo do espaço na Rua da Consolação.

O amadurecimento, ocorrido paralelamente, dos núcleos artísticos do Teatro Fábrica levou, no entanto, à ruptura de uma proposta coletiva inicial e à divergência de opiniões quanto ao modo de gerir um espaço compartilhado: percebemos, então, que os ideais que nos levaram a construir aquele espaço de pesquisa deixaram de existir. Tomamos, assim, a decisão de nos retirar do teatro. Hoje, atuamos de forma independente e totalmente desvinculada dos projetos oriundos do antigo Teatro Fábrica.

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