domingo, 23 de agosto de 2009

Ata da reunião do M27M e Roda do Fomento em 13/08/2009

Realizada no Teatro Coletivo, às 19h30, com 22 presentes. Foram discutidas as seguintes pautas:



1. Informe Marcha MST/Ato unificado dos movimentos: Oswaldinho falou a respeito da participação dos grupos Brava Cia, Engenho Teatral, Coletivo Dolores e Cia Estável na Marcha do MST no trecho de chegada à cidade de São Paulo, na segunda-feira, 10/08. Também foi feito o chamamento do M27M para participar do Ato unificado dos movimentos na Avenida Paulista, na sexta-feira, 14/08, a partir das 10h00.
2. Graça informou sobre um Debate com o Ministro da cultura na Folha de São Paulo, o qual seria realizado na quarta-feira, 19/08, na Folha de São Paulo.
3. Fomento: Oswaldinho leu carta enviada a ele do gabinete do líder da Câmara no Governo, Vereador José Pólice Neto, na qual se confirmava a existência de mais de 2 milhões e trezentos mil reais contingenciados da verba destinada ao fomento ao teatro, justificada pela crise econômica mundial. Foi proposto Ato contra o contingenciamento para a terça-feira, 18/08, às 13h00 na Praça do Patriarca. Foram designadas algumas funções, como entrar em contato com cooperados (Graça, Edson e Sidney), compra de materiais para confecção de novas faixas (Ludmila), informes e panfletos (Graça e Marília). Para a confecção das faixas, foi arrecadado dinheiro com os presentes, ficando a cargo da Ludmila cuidar do caixa do movimento daqui por diante. Também foi retomada a avaliação da reunião com a comissão julgadora da 14a edição do fomento, ressaltando a importância de que estas sejam comissões cada vez mais politizadas.
4. Discussão dos textos “Por uma arte revolucionária independente” e “Direito à literatura”.



1. Marília iniciou a discussão lembrando o contexto no qual o manifesto foi escrito (necessidade dos artistas combaterem o fascismo e o stalinismo), em que os artistas se enxergam como seres políticos, e que neste sentido se identificam com o M27M. É lançada a pergunta “é possível a existência da arte no capitalismo?” Neste sentido, qualquer um que entenda que a arte compreende o desenvolvimento pleno do ser humano, e que isto só se realiza quando o homem é liberado da exploração de seu trabalho em troca da satisfação mínima de suas necessidades básicas, é um aliado na luta contra o capitalismo e pela libertação da arte como diz o manifesto. O Stalinismo prestou um desserviço ao em nome da idelogia utilizar-se da arte como meio de propaganda de uma identidade da classe da trabalhadora. Como diz o manifesto, a idéia do M27M é que a cultura seja espaço para a liberdade, que as políticas de cultura ajam no sentido de tornar os privilégios de muito poucos no direito universal de todos, garantido não apenas o acesso do povo à arte, mas a possibilidade de todos fazerem arte. Neste ponto, chegou a provocação “até que ponto estamos dispostos a abrir mão dos nossos pseudo-privilégios como artistas para lutar pelo direito universal da arte enquanto atividade humana?”
2. Márcio colocou dois pontos em relação à inércia que leva a grande maioria das pessoas a não criar: a força cultural para tornar-se não um produtor, mas um consumidor de arte; e também as urgências da sobrevivência sempre colada ao calcanhar. Também colocou a facilidade da oportunidade propiciando a criação, citando o exemplo do youtube como estímulo para a criação de milhares e vídeos amadores que podem ser postados para acesso mundial, tendo maior facilidade de alcance que peças teatrais.
3. Graça levantou a importância de agregar os diferentes em nome de militar contra o perigo que está a sociedade, em que os movimentos são desqualificados pela imprensa e pela própria classe, justamente por representar um avanço nas discussões.
4. Malu fez um relato sobre um espaço em Carapicuíba, em que um senhor recolhia os depoimentos das pessoas encarceradas num manicômio, que foram completamente privadas da capacidade de expressar, que por não produzir na sociedade do capital e não compartilhar do pensamento desta sociedade, eram vistos como loucos. Desta forma, chamou a atenção para a necessidade de resistir ao aniquilamento cultural,em que as pessoas são continuamente massacradas na sua possibilidade de se manifestar.
5. Majó falou sobre a região do Cariri que é riquíssima em arte. Levanta a pergunta “o que é arte e o que não é?” como uma apresentação de reisado pode ser algo tão poderoso justamente pelas raízes que mantem com suas origens, enquanto o capitalismo tende a tornar em produto consumível todas as manifestações, descolando a obra de seu contexto original. O quanto os artistas mesmo não fazem isso entre si. A relação de uso que se cria com figuras como Bispo do Rosário, Estela do Patrocínio, Estamira. Arte é para qualquer um. É espírito em manifestação.
6. Alexandre falou da sociedade do medo, do quanto existe um mecanismo anterior nas entrelinhas da cultura que gera um medo, que faz as pessoas nem terem a noção de sua dimensão, de quem são. Nós artistas somos corpos saudáveis, que somos assistidos por outros corpos saudáveis, isto é, que tiverem o mínimo de estrutura de vida.
7. Mario ressaltou a atualidade do manifesto, uma vez que continuamos longe da emancipação humana, pois não vivemos no estado democrático de fato, mas sim de direito, no qual se mantém a concessão de privilégios. Os direitos mais básicos são mercadorias que estabelecem os níveis de classe pelo poder de acesso a estas necessidades. O papel da imprensa tem sido criminalizar os movimentos populares e pedir parcimônia para com os banqueiros. A própria imprensa é uma mercadoria. A educação estética é aburguesada, privilegiando a arte elitizada e dessensibilizando para as manifestações populares.
8. Marcio: Como não vemos a força que nos introduzem na cabeça (exemplo do Índex);
9. Oswaldinho: Temos internalizados os modelos de uma arte elitista, os quais reproduziram. Qual arte e qual cultura temos em nosso imaginário? O constrangimento da falta de identidade do trabalhador com o espaço físico do teatro.
10. Distinção entre cultura e arte: cultura tem a ver com pertencer a grupos, e é isto que forma nações. Arte tem a ver com romper e trazer o Id para fora. A cultura enquadra; a arte discute. O povo tem que ter uma cultura esclarecida e fortalecida, para não perder-se diante da cultura de massa capitalista. O teatro visto como um ponto de respiro, a pausa estratégica do mundo do trabalho... se férias não fossem interessantes, o padrão não permitiria.
11. Jorge: A relação de consumo com a arte, fetichizada. Que tipo de comunhão, de fruição as pessoas têm? A relação acessória: que valor a arte agrega à minha vida: existencial ou de status? Exemplo do CCBB como espaço ocupado pela arte mas dissociado do entorno, das pessoas do entorno. Que relação quero estabelecer com meu público? A arte e o Teatro não pertencem à cultura (Artaud).
12. Viviane: Divergência entre o discurso “arte para todos” e as atitudes cotidianas de artistas, professores universitários e outros agentes sociais. Trabalho da Trupe do trapo visto como social, mas não artístico.
13. Marília: No capitalismo a arte não é para todos. A arte não tem lugar enquanto atividade livre, no máximo uma ínfima tolerância enquanto não fizer muito barulho. No capitalismo, arte é mercadoria e a arte de mercado, a melhor mercadoria. Na ditadura implícita do mercado, nós não existimos. “Ao comunismo, a arte não é estranho”. Planificar a economia, para que o mundo da liberdade possa existir. É importante que os artistas tomem partido, se vejam como seres políticos. O nível de consciência precisa avançar no entendimento de que a arte não se realiza de fato no mundo capitalista. O que queremos? Um edital? Tomar o poder!



5. Marília encaminhou as seguintes propostas: realização de mais um ou dois encontros, mais a realização de um dia de trabalho de onde se tirará um manifesto do movimento. A discussão continua nesta quinta, 20/08 às 19h30 no teatro Coletivo. Os textos são os mesmos.
6. Para o dia 27/08 está previsto encontro com a Iná Camargo para falar sobre o texto “Introdução à literatura brasileira” do Antônio Cândido.

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