sábado, 14 de fevereiro de 2009

ATA DA RODA DO FOMENTO EM 09/02/09

São Paulo, 9 de fevereiro de 2009.



Ata elaborada por Graça Cremon e Egla Monteiro

A Roda do Fomento realizou mais uma vez, o encontro da categoria teatral com a comissão que analisa as propostas a serem contempladas pela Lei de Fomento ao Teatro Para a Cidade de São Paulo.

Este encontro é uma oportunidade do exercício da cidadania, na medida em que tomamos para nós a responsabilidade de garantir que as conquistas previstas na lei possam ser asseguradas. É a possibilidade de, no debate e no confronto da lei com as necessidades dos fazedores e na relação com o público, que é o sentido do teatro que fazemos, aperfeiçoá-la.
Em suma, é o momento em que assumimos a responsabilidade pela condução de uma política cultural pública por meio de nossa participação.

Desta vez o encontro foi com a comissão da décima quarta edição do programa. Aconteceu na Cooperativa Paulista de Teatro. Foi a primeira reunião com esta comissão que avaliará o Fomento em sua primeira edição de 2009. Uma segunda reunião com esta mesma comissão está prevista depois de serem anunciados os contemplados. Desde já convidamos a todos para participarem. A data será divulgada oportunamente.

Os sete membros foram convidados. Cinco compareceram. São eles: Gabriela Rabelo,Cássio Pires, Isaias Almada, Carminda Mendes e Luiz Amorim.

Os outros dois, Tiche Vianna e Evaristo Martins, acolheram o convite e entenderam a importância do encontro, mas devido a compromissos anteriormente assumidos, infelizmente não puderam comparecer.

Ney Piacentini, presidente da CPT, abriu a reunião. Convidou a todos e todas para a entrega do Prêmio CPT de teatro nos Espaço dos Parlapatões, dia 16 de fevereiro, à noite.

Chamou também para apoiarmos a luta dos companheiros do Movimento Mobilização Dança que estão com a Lei de Fomento a Dança ameaçada de não ser cumprida.
Em seguida, falando em nome da Roda, Graça Cremon fez uma breve explanação sobre o Roda do Fomento, dizendo que é um movimento aberto e democrático, e que todos estão convidados a participar e se engajar nesta luta por políticas culturais públicas que atendam as necessidades dos grupos e fazedores de um teatro, que levem em conta as demandas e urgências do mundo contemporâneo na busca por uma sociedade humana, justa e solidária, em diálogo direto com a cidade. As reuniões da Roda acontecem sempre às segundas-feiras, ás 11h ou 14h.Ela apresentou, ainda, à comissão algumas falas recorrentes, trazidas pelos participantes da Roda, que reforçam que a preocupação com o “formato”, com a “aparência” dos projetos, está fazendo com que o Fomento perca, pouco a pouco, sua essência. Neste ponto, Egla Monteiro, falando em nome da Roda, toma a palavra para esclarecer a natureza dessas preocupações. Diz que a originalidade da lei, estava, inclusive, no modo de apresentar os projetos. Ou seja, o grupo, no momento de apresentar seu projeto poderia revelar, já na apresentação, o modo mesmo de procedimentos que o grupo ou núcleo utiliza para pensar seu trabalho artístico. As singularidades até no modo de apresentar, já contemplava a diversidade de modos existentes e não um único, como é padrão no mercado. A gente não tem que pensar em criar uma arte, investir recursos que ainda nem tem, para impressionar, ou descansar os olhos da comissão. As regras devem ser outras. Na medida em que a maioria dos grupos começa a ter a preocupação de apresentar seus projetos com identidade visual, com formatação-padrão, perde-se essa característica de se fazer as coisas na contramão do que nos é exigido pelos PACs, editais, e que de forma alguma, leva em conta nossas especificidades e originalidades, que , aliás, não estão em contradição com o desejo do teatro que queremos comungar com a cidade. A excessiva burocratização que o edital passou a exigir, já foi uma grande perda no sentido da originalidade da Lei também em relação ao modo de apresentar o projeto. Graça Cremon retoma a palavra e passa a apresentar as sugestões que a categoria teatral considera que a comissão deva observar para a análise dos projetos. Estas sugestões são preocupações sempre recorrentes, trazidas pelos grupos nas reuniões da RODA. Os pontos são os seguintes:1 - Que, em essência, quando a Lei foi criada, ela nasceu para atender, justamente, grupos de ação continuada, cujos projetos apresentados deverão estar em relação com suas pesquisas e trajetórias; Grupos de ação continuada não significa que novos grupos que acabaram de se formar não possam ser contemplados. Seus projetos têm que ser de continuidade.

2 - Que o orçamento seja avaliado em relação direta com a proposta e não
desvinculada dela;

3 - Que os cortes, se realmente necessários, sejam de, no máximo, 10%;

4 - Que se a um projeto se exigir corte de 50% de seu valor, este projeto não merece nem ser aprovado;

5 – Que seja observado se o grupo já possui um patrocínio em andamento e quais os valores envolvidos. Percebe-se, às vezes, um mesmo grupo acumulando vários patrocínios e/ou prêmios. Que esse fator possa pesar na avaliação sobre dois projetos muito bons.6 – Que a comissão mantenha o parecer para os projetos que não foram contemplados.7 – Foi lembrado, também, que o Fomento não existe para fazer um rateio entre os grupos, mas sim, para que os melhores projetos sejam contemplados. Sem esquecer que eles devem promover um diálogo necessário com a Cidade de São Paulo. Foram levantadas as seguintes questões para serem postas à comissão: RODA DO FOMENTO.

Luis Carlos Moreira fez considerações completas à respeito do orçamento do fomento. Questionou os valores postos pela SMC no edital, afirmando estarem incorretos. Pediu com urgência que sejam refeitas as contas para que sejam levantados os valores corretos, pois só assim a comissão poderá trabalhar de forma eficaz no sentido da utilização da verba. A prefeitura nos diz que nossos valores estão atualizados, mas, os números que o Moreira nos traz apontam diferenças. O Sidney também completou o quadro com os dados numéricos do tipo: investimentos pagos em 2009 de projetos iniciados nas duas últimas edições do Fomento, ou ainda pendentes.

Precisamos saber o valor atualizado para podermos brigar pelo nosso orçamento inteiro em 2009. Não podemos correr o risco de vermos esse dinheiro voltar na segunda edição.

O Moreira pediu que a Roda do Fomento encaminhasse junta a CPT a atualização dos valores e que, o mais breve possível, déssemos subsídios para que a comissão trabalhe sobre o orçamento correto. O Sidney Nunes ficou de encaminhar.

Isaias Almada, presidente dessa comissão, tentou nos tranqüilizar, pois estará atento a “como” iremos distribuir a verba dessa edição, mas, deixou bem claro que está pessimista em relação ao governo. Mostrou-se afinado com a Roda, bem como todos os membros da Comissão, que concordaram com os pontos colocados.

Falou também sobre os vícios de escrevermos projetos com gorduras esperando os cortes das comissões.

Como os projetos são escolhidos por comparação foi importante observar que se um grupo remunera seu artista com um valor bem menor que outro, não significa que o grupo que remunera melhor seu artista está com gordura. A relação de trabalho implica em relações internas ao grupo e isso acaba se traduzindo em remuneração diferenciada.

Paulo Fabiano retomou as preocupações em relação ao formato dos projetos, já postos por Egla. Criticou o fato de que há uma padronização dos projetos. Pediu que se uma proposta não está clara, mas a idéia é boa, isso deva ser considerado.

Marcos Pavanelli e, também, Dulce Muniz falaram em defesa da maturidade profissional da categoria em relação aos orçamentos sem gordura. Que isso tem sido enfatizado junto à categoria e tem sido um procedimento adotado para os projetos do Fomento.

Um companheiro novo na roda, fez um retrato interessante de como vivemos hoje em dia, nós os artistas. Observou que devemos deixar o glamour da profissão de lado e percebermos a informalidade em que vivemos. Não conseguimos nos organizar minimamente diante da nossa situação profissional. Não somos capazes de financiar o sonho da casa própria, nem conseguimos fazer um tratamento dentário digno. Devemos nos ver mais como trabalhadores que somos.

A fala da Dulce colocou uma importante questão, a da diversidade do teatro que se faz em São Paulo. Ela ratificou a necessidade de que esta diversidade seja considerada na hora da análise dos projetos, pois esta é uma riqueza que não pode deixar de ser levada em conta, sem risco de se ditar um “modelo” para o teatro que deve ser contemplado pelo Fomento.

A Sílvia retomou a questão posta por Paulo Fabiano, por Dulce e por outras pessoas presentes, sobre a questão do modelo de fazer projeto para o Fomento dizendo que é preciso, também, querermos nos capacitar, buscar o conhecimento e que, sim, a despeito disso, os que ainda não sabem fazer, mas têm propostas de interesse para a cidade (citou um grupo de jovens da periferia que realizou um lindo projeto e que tem essa característica de estar começando, com todas as dificuldades de formação e capacitação para fazer um projeto) também devam ser olhados com atenção, para além da escrita, da formatação. Ressaltou, ainda, a labuta de todos nós que ficamos a maior parte do tempo fazendo projetos e trabalhando na produção, até que nossos projetos sejam viabilizados.

A Graça Cremon apontou para que seja observado também como o grupo trabalha a questão da contrapartida social. Muitos entendem por contrapartida oferecer apresentações gratuitas às escolas da rede pública do município, incluindo CÉUS e outros espaços públicos. Entendemos que essa ação realiza migração de recursos da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Educação, além de não permitir aos grupos não-fomentados que vendam, ou ainda, participem da programação desses espaços. Essa preocupação está diretamente ligada à não existência de programas que se debrucem sobre a Formação de Público para o Teatro na cidade. O Moreira recorreu à lei para colocar que a seu objetivo é “apoiar a manutenção e criação de projetos de trabalho continuado de pesquisa e produção teatral visando o desenvolvimento do teatro e o melhor acesso da população ao mesmo.” Lembrou, ainda, que um grupo novo pode ser contemplado com o Fomento, desde que comprometido com continuidade.A Gabriela Rabelo trouxe esclarecimentos (praticamente um mimo) sobre a palavra fomentar que, segundo pesquisa feita por ela no dicionário, vinha de friccionar um líquido quente
sobre a pele, e que só depois, tomou o sentido que conhecemos hoje. Para ilustrar, trouxe-nos a pérola: “Se não quis me ouvir, que se fomente!”.Vamos repetir aqui a pérola da Gabi, depois de presenciarmos um debate tão bacana como esse, que nos incentiva a manter a Roda cada vez mais forte, podendo ser capaz de promover estes encontros de pequenas grandes lutas. Então, para os que dizem “Não adianta, as coisas não mudam, não vou perder meu tempo na Roda”, lá vai: “NÃO QUEREM OUVIR...QUE SE FOMENTEM!!!“

O próximo encontro da RODA acontecerá segunda-feira dia 16 de fevereiro de 2009 às 11h na Cooperativa.

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