Fundada em 1989 em São Paulo por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, Os Satyros iniciaram a pesquisa de um teatro essencialmente experimental. Em 1990, a partir da montagem “Sades ou Noites com os Professores Imorais”, da obra homônima do Marquês de Sade, que estreou no Teatro Guaíra, em Curitiba, a companhia provocou polêmica e dividiu a crítica especializada. Os Satyros tiveram muita dificuldade em localizar um espaço para a apresentação do espetáculo na cidade de São Paulo. Foi então que a companhia assumiu a administração de um pequeno teatro abandonado no tradicional bairro paulistano da Bela Vista, chamado Teatro Bela Vista. Além de conseguirem apresentar o espetáculo, iniciaram um período de forte intervenção cultural que se prolongaria até a transferência da companhia para a Europa. Com a estréia do espetáculo, a imprensa e os críticos elogiavam a coragem do grupo; por outro lado, criticavam a crueza com que a companhia tratava a obra de Sade. O saldo: um ano em cartaz, seis indicações ao Prêmio APETESP de Teatro, incluindo as categorias de Melhor Espetáculo, Direção e Ator Protagonista, e a aquisição do Teatro Bela Vista.
Mesmo instalada em São Paulo, a companhia mantinha o seu contato estreito com a produção cultural paranaense, o que culminaria com a organização da “1ª Mostra de Arte Paranaense em São Paulo”. Com o apoio do Teatro Guaíra, mais de 50 artistas se apresentaram no Teatro Bela Vista durante quinze dias ininterruptos de atividades.
Com “Saló, Salomé”, também de 91, Os Satyros marcaram presença e começaram a definir uma linha própria de pesquisa. Por oito meses o Teatro Bela Vista teve lotação esgotada e o espetáculo foi convidado, no ano seguinte, para representar o Brasil em dois importantes festivais de teatro europeus: o FITEI, do Porto, em Portugal, e o Festival Castillo de Niebla, em Moaña, Espanha, durante a EXPO de Sevilha.
Foi assim que nasceu a sede portuguesa do grupo. Instalados em Lisboa, Os Satyros produziram vários espetáculos e viajaram por importantes teatros na Europa: de Londres a Kiev. Em 93 participaram do Festival de Edimburgo, na Escócia, e do Festival de Avignon, na França. No Edinburgh Festival, a montagem da companhia foi considerada pela crítica a sensação do festival. Em Londres, Os Satyros se apresentaram no respeitado centro de teatro experimental Battersea Arts Centre. No mesmo ano de 93, apresentaram-se em Kiev. Foi a primeira companhia ocidental a se apresentar na Ucrânia desde a queda do muro de Berlim.
A partir de 94, a companhia começa a trabalhar novamente em Curitiba, desenvolvendo os projetos “De Profundis” e “Quando Você Disse Que Me Amava”.
Em 96, Os Satyros trabalharam intensamente entre Brasil e Portugal. Curitiba abrigou a primeira produção brasileira da companhia com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, “Prometeu Agrilhoado”, inspirado no texto de Ésquilo e que utilizava os recursos multimídia que vem sendo pesquisados pela companhia – este espetáculo foi a primeira parte da “Trilogia Grécia Virtual”, completados por “Electra” (97) e “Medea” (98). Em Lisboa, realizou “Woyzeck”, de Büchner, apresentado em uma das principais salas de espetáculos do país, o Teatro da Trindade, e “Hamlet-Machine”, de Heiner Müller, no Museu da Cidade de Lisboa.
No ano de 98 a companhia produziu “Urfaust”, estreado na mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba, baseado no texto original de Goethe. Ainda neste ano a companhia realizou as montagens de “Maldoror” – cuja trilha sonora foi especialmente composta pelo músico inglês Steven Severin, fundador da banda Siouxsie and the Banshees e um dos mais respeitados músicos pop da Inglaterra – e “Medea”, a partir do mito grego. O programa “Os Cantos de Portugal” manteve-se como uma das grandes audiências da Rádio Educativa, permanecendo no ar até os dias atuais.
O ano 2000 veio com força para a companhia que estreou no Festival de Teatro de Curitiba o espetáculo “A Dança da Morte”, de Strindberg. Em Agosto Os Satyros estrearam “Retábulo da Avareza, Luxúria e Morte”, de Ramón del Valle-Inclán. Naquele momento a companhia preparava a inauguração de sua sede em São Paulo, enquanto assumia a direção artística do projeto Instant Acts Against Violence and Racism, patrocinado pela instituição alemã Interkunst, com fundos da Comunidade Européia. Durante este ano Os Satyros excursionam pela Europa com o espetáculo “50 Years Difference”, com texto a partir de depoimentos de sobreviventes da II Guerra Mundial, em uma produção da Interkunst.
Em 2002, a companhia debuta no cinema, realizando o longa-metragem “Último Sinal”, em fase de finalização, e traz à cena paulistana “De Profundis”, com texto de Ivam Cabral e direção de Rodolfo García Vázquez, baseado na obra que Oscar Wilde escreveu no cárcere e “Kaspar” à cena curitibana. Simultaneamente, o espetáculo “Quinhentas Vozes” é apresentado no interior de São Paulo, dentro do projeto “Jovem Protagonista”, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
Ainda em 2002, a companhia foi contemplada com o Programa de Fomento ao Teatro, da Secretaria Municipal de São Paulo, através de um subsídio para as atividades de sua sede paulistana; e organizou o evento “Satyrianas, uma Saudação à Primavera”, em comemoração ao 13o. aniversário de sua fundação. Nesta ocasião, atuaram com o grupo, em uma série de debates e workshops, nomes importantes da cultura brasileira, como: Antonio Fagundes, Fernando Peixoto, Clara Carvalho, Georgette Fadel, Claudia Schapira, Silvana Garcia, Sebastião Millaré, Marta Góes, Maria Adelaide Amaral, entre outros.
Em 2003 Os Satyros estrearam “Antígona”, de Sófocles - indicado ao Prêmio Shell de Teatro em duas categorias: melhor direção (Rodolfo García Vázquez) e melhor atriz (Dulce Muniz) - e “A Filosofia na Alcova”, a partir do Marques de Sade, que teve sua estréia no Festival de Teatro de Curitiba.
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