quarta-feira, 29 de outubro de 2008

CIA. DO LATÃO

PESQUISA EM TEATRO DIALÉTICO

A Companhia do Latão é um grupo teatral de São Paulo que desenvolve desde julho de 1997 uma pesquisa artística voltado para a reflexão crítica sobre a sociedade atual. Esse trabalho inclui a encenação de espetáculos, a edição da revista Vintém bem como uma série de experimentos cênicos, musicais e teorizantes.

A origem do grupo está ligada à ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet da Funarte em São Paulo, entre 1997 e 1998, quando se consolida seu estudo da obra de Bertolt Brecht como um modelo para o teatro épico-dialético no Brasil. Desde então, o grupo produz dramaturgia própria, interessada na realidade histórica do país bem como na crítica política das formas estéticas de representação. Suas montagens são "peças-processo" sobre movimentos contraditórios de uma sociedade imersa nas determinações do capitalismo mundial.

Foto: Lenise Pinheiro O caráter processual faz com que cada espetáculo da Companhia do Latão não se insira no sistema produtivo como um "produto acabado", mas antes como matéria formativa, em constante transformação, aberta à interferência crítica do público. Os espetáculos da Companhia do Latão procuram evidenciar sua construção por um jogo teatral claro, com regras expostas. Trabalham com a relação direta entre atores e público, de uma forma anti-ilusionista, desprovida de maiores efeitos cenográficos. O espaço da ficção depende da colaboração imaginária do espectador, é construído como experiência compartilhada.

Os primeiros trabalhos do coletivo teatral Companhia do Latão foram adaptações de obras de Brecht. O conjunto de textos teóricos de A Compra do Latão deu origem ao espetáculo Ensaio sobre o Latão (1997). E o texto Santa Joana dos Matadouros recebeu uma encenação livre, em parte itinerante pelo espaço teatral. Foram projetos que deram seqüência a uma pesquisa iniciada em 1996 com a montagem de A Morte de Danton de Büchner, na livre versão intitulada Ensaio para Danton, que, dirigida por Sérgio de Carvalho, aproximou alguns dos artistas que formariam o grupo no ano seguinte.

O primeiro trabalho inteiramente autoral, feito com base no método de dramaturgia coletiva da Companhia do Latão, foi O Nome do Sujeito, texto de 1998, com versão final dos diretores e dramaturgos Sérgio de Carvalho e Márcio Marciano, e publicado no ano seguinte. Esse trabalho, feito a partir de improvisações, abriu caminho para a produção de uma escrita épico-dialético contemporânea, do ponto de vista de uma crítica aos modos de operação violentos do capitalismo na periferia da globalização econômica. Essa coletivização da escrita assumiu caminhos muito radicais no espetáculo seguinte, A Comédia do Trabalho, que estreou no ano 2000. Na medida em que procura trabalhar suas construções teatrais na perspectiva da crítica à mercantilização da cultura e da transformação da sociedade, a Companhia do Latão atraiu o interesse de diversos grupos politizados do país e passou a realizar, desde 1999, intercâmbios com platéias ligadas a movimentos sociais organizados, como o MST, sindicatos, frentes estudantis, além de dialogar com cientistas políticos ligados à universidade. Entre 2001 e 2003 o grupo ocupou o Teatro Cacilda Becker, no Bairro da Lapa, em São Paulo, onde produziu mais espetáculos baseados em textos próprios, como Auto dos Bons Tratos e O Mercado do Gozo. Em 2004 apresenta Equívocos Colecionados, a partir da obra de Heiner Muller e Visões Siamesas, criação original épica inspirada vagamente num conto do escritor Machado de Assis. Em 2006, a Companhia, juntamente com artistas convidados, provenientes de vários grupos de pesquisa, encena O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht. O trabalho da Companhia do Latão é uma mostra viva da possibilidade de utilização contemporânea do pensamento de Marx e Engels como ferramenta estética.

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